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O Livro do Tempo

O que se sabe hoje, é infinitamente menos do que na realidade existe!

O que se sabe hoje, é infinitamente menos do que na realidade existe!

Decretar resiliência à fatalidade!

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Decretar resiliência à fatalidade

 

Dizia Antoine de Saint-Exupéry que:

“Não há uma fatalidade exterior. Mas existe uma fatalidade interior: há sempre um minuto em que nos descobrimos vulneráveis; então, os erros atraem-nos como uma vertigem.”

Acordamos um dia e resolvemos alimentar a vida de esperança num dia melhor, num percurso de combate a um provavel destino que queiram traçar, que não seja aquele que por decisão própria até consideramos que é esse mesmo que faz parte e a luta prossegue até que no fundo de uma treva surge alguém que diz que estamos entregues ao nosso próprio destino, que é cada um por si e quem puder que se salve, porque a fatalidade da vida não dá para acudir a todos e a partir de agora será sempre assim, ou talvez pior.

Que engano este que nos querem passar, para que sirva de doutrina ou de uma linha de pensamento que alimente fatalidades de destinos históricos, de um povo que consegue sobreviver há tantos séculos, que tem encontrado velhos encostados em decretados pontos de partida, para que fique assinalado como oficial e válido, para quem o aceitar.

O homem, e a mulher, para além de seres sociais, também são seres políticos, porque cada um define a sua trajectória, como um contexto de regras, de princípios, de objectivos, de parametros de movimento em qualquer espaço que decide estar e como seres políticos têm a liberdade de tomar decisões sobre o que é melhor para cada um e nesse processo de tomada de decisões, cabe a identificação do que é melhor e pior para cada individuo.

A evolução da civilização, embora de muito curta abrangência nos ultimos cem mil anos, permitiu já criar raízes à construção de resiliência contra tudo o que não faz parte dos pergaminhos existênciais. Ser resiliente significa não aceitar o que não nos faz bem, ser resiliente significa reagir a todo o contrário de um percurso definido de crescimento evolutivo, independentemente das tentativas de propangandearem fatalidades de destino.

Cada um constrói o seu destino, haja mais ou menos dificuldades.

Resiliência siginifica prosseguir, mesmo com a queda, continuar prosseguindo.

Resiliência não significa aceitar a fatalidade, cara senhora, por mais parecer técnico que seja necessário ladear a beira de um processo de operações.

Dos líderes sempre esperamos esse vislumbre de esperança, a mão que surje, mesmo que as trevas se pintem de negro escuro com luas de sangue, esperança de clamar presença contra todas as fatalidades.

Ninguém aceita enganos nestes dias, de qualquer tipo. Não é possivel que nos enganemos nas escolhas a este ponto. Há uma recusa, inclusivamente pessoal, de assumir esse engano, porque senão, estamos todos engados e andamos todos engados.

Também concordo que quando os grandes desastres acontecem e com consequências inimagináveis ou difíceis de terem sido previstas, é porque nunca se deu a verdadeira importância ao que esteve à volta da mesma, o que a originou. Se de factos vivemos, este processo factual é provavelmente o mais explícito.

O que decide e quem decide o que é importante a uma comunidade, é regido pelo medo pessoal de ser abordado à sua própria incapacidade. Aos líderes não esperamos que tenham medo, que se deixem abordar por tal absurdo de ocasião que só coloca em causa a sua estrutura.

Existem líderes para conduzir a comunidade num caminho de construção de capacidades e competências e se ele tem muitas pedras no seu percurso, então eles, líderes, existem para formar os caminhantes a saberem lidar com as pedras do caminho. Não seria preciso a evocação a Fernando Pessoa para demonstrar a linha desta nação à resiliência mais forte. Os castelos não são construídos pelos seus proprietários, mas são eles que ditam de que pedra são feitos.

Meus senhores, minhas senhoras, devemos ter vergonha quando não sabemos cuidar da comunidade e principalmente quando somos incumbidos de tais responsabilidades. Independentemente das mudanças de paradigma ao real papel de governante, a vergonha apela a uma atitude de responsabilização. Coitados daqueles que acham que a serventia mudou de lugar. As pessoas são adultas, de facto, e conscientes.

A revolta é de vergonha. Sou de um país que é dos mais seguros do mundo, de um país com uma beleza natural que tem conquistado meio mundo e o outro meio está deslumbrado. Sou de um país que tem surpreendido as instâncias financeiras mais importantes, pela sua capacidade de recuperar um país falido. Sou de um país com gentes apreciadas em todo o mundo, pelas suas próprias capacidades.

Quero fazer parte de uma país que trate bem as suas gentes e que esse país se orgulhe das gentes que tem.

Só teremos um grande país, quando o país, os seus responsáveis, estiverem empenhados em fazer das suas gentes, gentes grandes, gentes de envergadura e que ganharam o estatuto de grandes resilientes, de grandes combatantes e não de aceitarem qualquer coisa que lhe queiram servir, sobretudo quando essa qualquer coisa não serve.

Os resquícios do antigamente, o que sobra das sombras, para as sombras dos outros amesquinha a grandeza.

Pobres daqueles que acham que poder é de quem quer.

Façamos deste tempo, não um tempo de fazer, mas um tempo de limpar. Está tudo demasiado sujo, para fazer qualquer coisa e antes de começar a fazer é preciso limpar.

Façamos deste tempo, um tempo de honrar as gentes desta terra, de valorizar o verdadeiro valor de gentes que não tem igual em qualquer outra parte, gentes com eles no sítio, a quem obrigam respeito.

Para além do mais, merecemos melhor, muito melhor e cada vez melhor. Melhores líderes, melhor país, melhor vida, melhores capacidades, melhor paradigma. Merecemos que nos puxem para cima e não quem nos deite para o chão. Se isto é uma luta de boxe, merecemos um treinador que vá lá, que nos ajude a levantar, um treinador que percebe da coisa.

Rubem Alves, Grandes Legados, Grandes Memórias, Escutatória

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Rubem Alves

Grandes Legados, Grandes Memórias

Escutatória

 

Hoje caiu que nem uma surpresa, uma óptima surpresa, numa reunião em que nos juntamos muitos, para que a meio da mesma alguém tivesse sugerido ler este magnifíco texto de Rubem Alves.

Depois disto só apetece mesmo estar em silêncio:

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo o mundo quer aprender a falar...Ninguém quer aprender a ouvir.

Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil.

Diz Alberto Caeiro que...Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores.

É preciso também não ter filosofia nenhuma.

Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.

Parafraseio o Alberto Caeiro: Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito.

É preciso também que haja silêncio dentro da alma.

Daí a dificuldade:

A gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor...

Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.

Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração...

E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.

Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade.

No fundo, somos mais bonitos...

Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos, estimulado pela revolução de 64.

Contou-me de sua experiência com os índios. Reunidos os participantes, ninguém fala.

Há um longo, longo silêncio.

Vejam a semelhança...

Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do piano, fica assentados em silêncio...

Abrindo vazios de silêncio...Expulsando todas as idéias estranhas.

Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala.

Curto, Todos ouvem. Terminada a fala novo silêncio.

Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos...

Pensamentos que ele julgava essenciais.

São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.

Se eu falar logo a seguir...São duas as possibilidades.

Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza.

Na verdade, não ouvi o que você falou.

Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala.

Falo como se você não tivesse falado.

Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo.

É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.

Em ambos os casos, etsou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.

O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.

E, assim vai a reunião.

Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos.

E aí, quando se faz silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.

Eu comecei a ouvir.

Fernando Pessoa conhecia a experiência...

E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras...No lugar onde não há palavras.

A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.

No fundo do mar – quem faz mergulho sabe – a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos.

Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia...

Que de tão linda nos faz chorar.

Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio.

Daí a importância de saber ouvir os outros. A beleza mora lá também.

Comunhão é como a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.

A síndrome da Checoslováquia

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A síndrome da Checoslováquia

 

Logo no início do ano de 1993, mais precisamente no que haveria de ser considerado o novo ano do resto da vida da Eslováquia, primeiro dia de janeiro, declarava a sua independência, com o desmembramento da então Republica da Checoslováquia, que por conveniência do conglomerado instalado, permaneceu como tal, até que o muro decidiu ir abaixo.

Vaclav Havel, então Presidente da Republica da ainda Checoslováquia deu o seu acordo para que assim acontecesse e a Eslováquia se tornasse e seja um estado independente.

A exemplo de muitos outros territórios, hoje independentes ou não e integarados no continente europeu ou não, a Eslováquia formou a sua cultura ao longo dos séculos, sempre com o objectivo de ser uma nação autónoma, reconhecida pelo seu próprio modo de vida e que finalmente conseguiu, neste ciclo, a sua autonomia, que não seria possivel de todo, se à frente das nações comuns, estivesse outro responsável que não alguém com atitude de regenerar esse tempo.

As diferenças entre a Eslováquia e a Catalunha são muitos grandes. Primeiro porque a Catalunha pertence a um Estado secular e a Eslováquia pertencia a um novo mundo, mal resolvido.

Mas também podemos referir algum tipo de comparação entre Portugal e a Catalunha e curiosamente ambos os territórios estavam indexados ao Reino de Espanha entre os séculos XVI e XVII e apenas um conseguiu ser independente. Rezam os ditos de então que a única razão por que Portugal conseguiu restaurar a independência e  a Catalunha não, foi o facto de Espanha apenas ter meios para acudir a uma das situações e neste caso deixou ir a parte mais fraca, ou seja, Portugal, não representava uma mais valia para uma integração de valor com o Reino de Espanha.

Os tempos e os seus meios de avaliação são diferentes. Os propósitos e os objectivos continuam sendo os mesmos.

A história, narrada em folhas de papiro e aquela que se conta nas circunstâncias, sempre refere que o mais importante é uma avaliação de conteúdo. Vendo bem as coisas, que benefícios e prejuízos existirão, com as decisões que se colocam em cima da mesa. Que ganhos e perdas se encontrarão nos processos de decisão e cujas consequências assinalarão para sempre uma debilidade existencial de um estado, cujo futuro, sempre se molda de acordo com o que é possivel fazer, nos quotidianos que passam e deixam marcas, de julgamentos esquecidos e apenas recordados nas salas de aula.

Vaclav Havel quase deixou um trauma existencial, mal visto e mal aceite. Os Homens de paz são normalmente excomungados pelo estabelecido e Vaclav Havel encontrava-se entre eles.

Talvez nunca se teria pensado, mas até poderia ter acontecido que a Espanha quisesse saír do espaço onde se encontra a Catalunha, mas isso seria uma não verdade, ou uma não realidade, muito para além de uma razoável compreensão, seria um charco cheio de pedras que até cobririam o dito, deixando de ser um charco. Até dá vontade de rir.

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