A passada semana foi noticiado em todo o mundo, que uma coluna de autocarros de pessoas comuns, seres humanos, homens, mulheres e crianças, tinha sido completamente devastada, com mais de uma centena de mortos, na Síria. A notícia espalhou-se por todo o lado, em todas as latitudes, com condenações mais ou menos veêmentes, comentários com mais ou menos profundidade, declarações oficiais para que a história possa mais tarde ter como registo do acontecimento. Isto é sério, muito sério, o que aconteceu.
Há certo tempo, tivemos mais um acontecimento trágico de um homem que mata a ex-mulher, porque não admitia que ela fizesse vida sem ele.
Temos todos os dias na comunicação social, também porque os amigos nos contam, porque participamos em conversas, informações de toda a natureza, muitas das quais nos fazem pensar ao que o mundo chegou com comportamentos tão estranhos, que apenas o são porque o mundo está cada vez mais pequeno e o seu acesso agora nada custa, tudo está acessível, até mesmo para que este sistema funcione com mais eficácia.
Podemos encontrar relatos com maior ou menor complexidade, com uma abrangência social muito grande, completamente transversal a todas as classes sociais, culturais e até mesmo do simples cidadão analfabeto, até ao mais formado académicamente, porque na realidade ter medo e incutir medo, não se cinge a questões de um status de preparação na evolução social e profissional. Ter medo e incutir medo, faz parte de uma essência humana que nos liga ao exercício de poder.
A velha escola com um exercício apoiado por uma experiência segura.
Tão antigo e velho quanto a existência do mundo, o conforto do medo como um refúgio de segurança para quem dá e para quem recebe. Nos dias de hoje até se poderia dizer que de tão velho que é que até se poderia reformar, mas de tão seguro que está, que resolveu se instalar definitivamente.
Para que o medo não se desinstale, foi criado um labirinto de citações motivacionais e instituições de ajuda, citando inclusivamente que ter medo é bom para o equilibrio humano. Assim, homens e mulheres, jovens, crianças sentem-se mais seguros, mais senhores de si próprios e já agora, também mais senhoras de si próprias.
O pior é quando isto atinge o sentido e a prática da ameaça, por tudo e por nada, basta que um ou uma esteja um degrau acima. Ameaçar tornou-se uma arma de controle comum, para complexizar ainda mais o labirinto. Uma vez dentro dele, as dificuldades são cada vez maiores para encontrar a saída, por isso talvez não seja má ideia ficar junto à porta de entrada e não avançar para o interior, porque a teia é muito forte.
O Professor José Gil, no seu livro “Portugal, o medo de viver”, retrata um cenário histórico deste país Portugal, dito à beira mar plantado, para fazer escorrer as lágrimas do acorrentado viver em que nos tornamos. Não é desde o velho do Restelo, não, mas o homem lá estava para fazer história numa marca profunda do país. O sinal estava dado, para que pudessemos pensar mais do que duas vezes, se necessário fosse, sempre que se decidisse avançar em mais alguma empreitada.
O medo tornou-se a arma mais poderosa. Um labirinto de entradas e saídas, de avanços e recuos, de nortes e desnortes, para fazer dirigir a mente humana no sentido mais lúdico dos momentos que são necessários. Mata-se, como e quando, para o fazer instalar bem visivel, até porque não se pode pôr em risco os ganhos. Controla-se, para que em nome de superiores interesses, que raramente se sabe quais, o proveito próprio ganhe substância.
O factor matar contemporâneo não tem mais uma ligação física, de eliminação pura e simples da matéria. Mata-se socialmente, politicamente, pessoalmente, familiarmente, religiosamente e por aí adiante. Os campos de actuação são vastos. Mete-se medo ou cria-se condições para que o seu ambiente seja adequadamente oportuno.
As sociedades são tão mais fortes e capazes, quanto a liberdade de pensamento e actuação que lhe são conferidas. No seu desenvolvimento, são providenciadas armas de reação, para fazer prevalecer as raízes da razão e da responsibilidade, que sempre é orientada para a construção de sociedades mais fortes e capazes.
Os exemplos que temos são muitos, quer ao longo da história, quer na actuação de hoje. Os que são mais desenvovidos e os que não conseguem prosseguir, os que são mais cultos e os que têm gravissimos problemas de literacia, os que se sentem mais seguros e os que sempre se escondem.
Quantas vezes se fala e com frequência, adaptando as necessidades de chamar à razão, o que eram os Valores de antigamente.
A frequência destas lembranças, que se mantêm actuais desde que a sociedade se organizou, convém para lembrar aspectos perdidos para as gerações que passam, possibilidades de marcar posições para tentar manter actual o que é considerado de Valor em cada padrão.
Não deixa de ser menos verdade, que as ocasiões com eventos na sociedade global com maior impacto, são mais que motivos para um retrocesso básico na pessoa humana, colocando o instinto animal a comandar as novas ou renovadas posturas de comportamentos.
Não se trata de velhos ou novos comportamentos, mas sim de experiencias enraízadas de valor, em contrapartida com valores em evolução e enquanto não tivermos consciência desse progresso, dessa direção de evolução, não teremos o necessário retorno da evolução correta da Humanidade.
Nem os mais velhos podem marginalizar os mais novos, nem os jovens podem descartar os mais velhos.
O mesmo se passa com os comportamentos e os valores, na cadência do seu desenvolvimento.
Não esqueçamos que são os quadros de pinturas mais antigas, ou de grandes mestres pintores, que atingiram seu auge em idades mais avançadas, que têm mais valor.
Mas, também não esqueçamos que são os jovens a despontar para a vida, que vão abrir novos caminhos de evolução.
Em tempos antigos, muito antigos, os conselhos de ansiãos das aldeias e das comunidades, eram compostos pelas pessoas mais velhas e por consequência ditas como as mais sábias, capazes de tomar as melhores decisões para todos.
Este era o paradigma.
No império romano, o conselho de senadores era composto por pessoas mais velhas, ditas como acumuladoras de maior conhecimento e sabedoria.
Nem as antigas regras dos conselhos de ansiãos, nem a composição dos antigos conselhos de senadores, nem tão pouco o facto de termos jovens homens e mulheres nos senados actuais nos países mais desenvolvidos, são motivo de paz e prosperidade.
A idade, por si só, não é garante das melhores realizações para a comunidade.
Então o que são os Valores antigos que estão a caír no esquecimento? O que é isso de “antigamente não era nada disso”? Não estaremos a falar de princípios básicos de sã convivência e relacionamento entre as pessoas, que “quando dá jeito” serevem de motor para fazer contra-ciclos?
A questão da sobrevivência gera inflexões profundas no comportamento da sociedade e na individualidade de cada um.
Basta analisar um pouco a História da Humanidade e verificarmos em que alturas estas inflexões mais acontecem. Somos seres sociais, profundamente avessos a mudanças e sempre que mudanças são necessárias, ou mudanças acontecem naturalmente, são gerados grandes questionamentos de Valores humanos e sociais. É natural do princípio humano, faz parte da nossa natureza.
Mas, isso também quer dizer que a evolução tem sido muito escassa, com muitas falhas, que a esta altura já não deveriam ser tão acentuadas.
Não aprendemos com os erros do passado.
O passado deveria ter como principal função, que a experiência acumulada, individual e coletivamente, revertesse em favor da natural evolução, mas muito raramente isso acontece.
Continuamos a repetir julgamentos de Valores Humanos, em vez de os fortalecer.
Homens e Mulheres, Velhos e Novos, Sábios e Ignorantes, são um corpo de transformação de um mundo com uma experiência e sabedoria acumuladas, de uma enorme preciosidade, com mais valor do que o mais apetecivel diamante do mundo.
Países onde esta experiência está a acontecer, tem com certeza resultados bem visíveis.
A pseudo ingenuidade de que o mundo não funciona assim, só é válida para quem não quer ou para quem resolver entrar nos contra-ciclos e bom lembrar que o mundo não é complexo ou difícil por si só. Complexo e difícil é o homem e a mulher que o quer assim.
Não sei se vivemos em tempos de mudanças, porque as mudanças acontecem desde que o mundo é mundo. Claramento o dia de ontem é diferente do dia de hoje, embora não possa dizer que o dia de amanhã será diferente do dia de hoje, porque ainda lá não chegamos e com a evolução que o mundo decidiu tomar, não quero arriscar tão grande previsão.
Então é assim; sou um particular adepto da forma de governação do anterior Presidente do Estados Unidos, que fez quebrar uma velha tradição americana, tão velha como a existência do próprio país, que foi o facto de pela primeira vez na história desse grande país ter sido eleito um presidente negro. Conhecendo a estrutura social dos Estados Unidos, é possivel dizer que se tratou de um grande feito. O actual Presidente não quis ficar atrás nas inovações a prestar ao país e decidiu descarregar em cima do Presidente anterior, a culpabilidade de tudo o que de mau ou de dificuldade o país está a atravessar neste momento, em sua perspectiva.
Do lado de cá do Atlântico temos uma prolongada discussão sobre as dificuldades financeiras dos países do sul da Europa e que na opinião de avalizadas personalidades, se deve a gastos inapropriados, ou ditos inapropriados. Independentemente de se considerar que gastos em mulheres e vinho, possa ser supérfulo, ou se gasta demasiado nessas actividades, para depois faltar para outras. Seria interessante ter na contabilidade de cada país estas alíneas de gastos nas respectivas contabilidades, uma vez que são motivo de grandiosa análise por parte altos dirigentes europeus, de ambos os lados, seja quem anuncia, seja quem seja anunciado.
Há vários anos atrás tive um amigo que me confidenciava que uma das grandes zonas de sucesso na vida, está no estabelecimento e organização de sistemas e entenda-se por sitemas como a forma como lidamos com as coisas, sistematicamente, de uma forma continuada, para criar rotinas que se insiram numa maquinização de comportamentos. Acho que esta pode ser uma boa definição.
Global ou localmente nunca tivemos acesso a tanta informação, a uma cadência que é difícil para humano digerir e muito menos compreender e nestas dificuldades se joga o jogo.
Contrariamente ao que se diz, não acho que o mundo esteja pior, ou a sua direção esteja cada vez mais em sentido errada; não acho isso. O que existe é cada vez mais 7 mil milhões de pessoas com acesso às mesmas coisas e a padronizar comportamentos. Antigamente estava restrito a meia dúzia deles, porque o acesso era muito estreito. Hoje não, ao contrário, toda a gente tem acesso a “desbandaneios” de toda a forma. Com certeza que a democratização do conhecimento é positiva, muito positiva, mas a exemplo de grandes inventos, em várias áreas, depende da forma como usamos.
São os tempos que vivemos, porque é a nossa realidade. Dentro de cem anos, será outra mesma realidade.
Resolvi pesquisar um pouco sobre a escravatura, os escravos, como começou, de onde vem, porque persiste nos dias de hoje, porque acho que se tem falado muito pouco e se sabe muito pouco sobre o tema, pelo menos de uma forma acessível e aberta.
Não que seja tabu falar sobre esta tragédia, mas porque existe alguma subavalorização acerca da escravatura.
Uma primeira curiosidade que obtive é a origem da palavra escravo:
Slavus, pessoa que é propriedade de outra.
Slavus, eslavo, porque muitos desta etnia eram destinados à escravatura.
Ora, sabemos que eslavos são os povos de origem indo-europeia, do leste e norte, incluindo Russia.
Outra curisosidade, talvez um pouco mais actual, pessoa que se enconta sob o domínio de outra, que não tem liberdade, pessoa sem direitos.
Bom, existem infindáveis associações de significado, de origem, quer do termo, quer da sua prática e não é sobre o seu significado no âmbito literário que vamos nos debruçar.
Nesta pesquisa, encontrei uma frase de George Bernard Shaw, que vai muito ao encontro do que vivemos na actualidade:
'A escravatura humana atingiu o seu ponto culminante na nossa época sob a forma do trabalho livremente assalariado.'
Não só a nível físico, creio que esta vertante é a que menos dá a sofrer e talvez a que tem menos significado no indivíduo.
Existem outras áreas exploradas com maior sofisticação actualmente e com uma gravidade tal, que não mata, vai matando, a nível intelectual, emocional, social, a eliminação completa do ser humano.
O primeiro grande choque foi saber, já passaram alguns anos, que uma conhecida empresa em França estava a dispensar ou despedir funcionários. Alguns desses funcionários não aguentaram a pressão exercida por tal decisão da empresa e decidiram pôr termo à vida.
Este evento decorreu durante algum tempo e durante algum tempo funcionários foram tendo comportamentos com a mesma finalidade.
Uma sociedade com autoridade eleita que não se retrata, ou melhor, não se identifica na realidade com uma escravatura atuante.
Seres humanos que decidem deixar de viver, porque deixam de ter o emprego que os sustenta de viver.
Regularmente se escuta definições de escravos da moda, escravos do vício, isto é uma autêntica escravatura, salários destes são salários de escravo.
Como 300 anos de história continuam tão actuais, tão vincados na sociedade, na mentalidade deste tempo, que nunca deixou de ser verdadeiramente o mesmo tempo de um ciclo diferente, adaptado à sua realidade.
Por isso, o grande objectivo de tantos homens e mulheres é serem livres de um comportamento e de uma crença que acorrenta os movimentos de uma natural respiração, que está ao dispor de todos.
A escravatura não é um factor externo, como a liberdade não é uma concessão de alguém.
Escravatura e liberdade, são propriedade de seu próprio dono.